“Os números podem falar e não falar. Hoje se fala de 250.000
mortos no conflito na Síria. Parecem-nos um horror, uma enormidade. Mas se
disséssemos que foram apenas 25.000 os mortos, esta cifra ainda nos
escandalizaria?”. Assim se apresentou na quinta-feira, 15 de outubro, o padre
Alejandro León, missionário salesiano na Síria, a cerca de 20 meios de
comunicação espanhóis, na sede de “Misiones Salesianas”, em Madri. E para
ilustrar o que significa cada morto no conflito e como a morte física significa
muitas outras mortes, contou a história de um animador do oratório salesiano.
“Um dos
nossos jovens, pelos 24 anos, tinha apenas completado os cinco anos de Láurea
em Jurisprudência; tinha sido aceito para preparar-se e tornar-se juiz; ia se
casar dentro de uma semana quando um das centenas de mísseis que caem todos os
dias sobre Damasco o matou. Sim, ele morreu. Mas podem imaginar o que
significou para os pais a morte do único filho? O que significou para a sua
noiva, para os seus amigos, entre os quais estou eu, e para os adolescentes que
ele acompanhava no centro salesiano? Eu bem o conhecia: era um exemplo para
eles, tinha realizado o seu sonho e lhe abriam-se as portas de um futuro
melhor. Agora esses meninos me perguntam para que serve estudar se... se esse foi
o fim do seu animador e, sobretudo, se este será seguramente o fim desses
mesmos rapazes...
Se alguém
deseja obter as cifras reais desse conflito, tomem esse caso e o multipliquem
por 250. 000”.
Foi o que
disse esse missionário venezuelano, de 36 anos, em Damasco desde 2010, onde
cumpriu a sua missão guiando o Centro Juvenil ao lado das crianças e dos jovens
que sofrem as consequências da guerra. Agora, como ecônomo da Inspetoria do
Oriente Médio (MOR), comenta: “Os pais devem escolher entre mandar os filhos à
escola, pondo em risco a sua vida, e não deixá-los sair de casa, e colocar em
risco o seu futuro”.
A guerra na
Síria dura há mais de quatro anos, uma guerra vendida de diversos modos. O padre
Leão mostra a sua desilusão ao ouvir falar de guerra... civil: “De um lado
estão combatendo pessoas de mais de 80 países. Em nenhum dicionário jamais se
considerou uma guerra civil: a Síria é um tabuleiro de xadrez: os sírios são os
peões a matar-se entre si. Hoje, quatro anos depois, todos os sírios têm um
morto por chorar, um morto por vingar...Talvez hoje, sim, possamos falar de um
conflito entre sírios, mas... foram os quatro anos de guerra a provocá-lo!”.
A cobertura
dos meios de comunicação europeus sobre a guerra na Síria viveu fases
diferentes. A chegada dos refugiados na Europa parece que atraiu a atenção
sobre esse conflito que aflige o Oriente Médio; todavia o padre Leão ajuda a
contextualizar tal realidade: “Os adultos não querem deixar o país e se o fazem
é pelos filhos. Ou talvez alguém ousaria pensar que uma pessoa com carreira
universitária digna, quereria deixar o seu país para chegar em um outro e ali
tornar-se um... analfabeto?”.
E, convencido
da sua missão, o salesiano afirma: “Não deixarei a Síria, porque é a minha
família e ninguém deixa a sua família em meio à guerra".
Mais
informações e números sobre a situação na Síria estão disponíveis no site da
Misiones Salesianas.
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