Atualmente, é
perceptível o grande número de pessoas que usam o celular. Nem é preciso buscar
as pesquisas para comprovar isso, basta ver que muitos na rua, no trabalho, nas
escolas, nas casas etc. estão com o aparelho nas mãos. Mas, além destes lugares
citados, existe um local que nos faz pensar no seu uso: a igreja.
Sabe-se que Igreja, em grego, diz-se ekklesia e significa “os convocados”. Todos nós
que somos batizados e cremos em Deus somos convocados pelo Senhor. Juntos,
somos a Igreja, onde Cristo é a cabeça e nós o Seu corpo (cf. Catecismo Jovem
da Igreja Católica, 121). Porém, refiro-me no texto ao templo físico, por isso
escrevo igreja com a letra inicial minúscula.
Numa conversa, espera-se que as pessoas estejam com toda a sua
atenção voltada uma para a outra. Na igreja, espera-se que todos estejam
voltados para dialogar com Deus, ou seja, que estejam por inteiro nas orações e
celebrações.
Alguns pensam que é possível fazer duas coisas ao mesmo tempo,
com a mesma atenção, mas essa teoria é questionável. O neurocientista Russell
Alan Poldrack, professor da Universidade de Stanford, afirma que o homem não é
feito para realizar várias atividades ao mesmo tempo. Assim, cabe a pergunta:
consigo usar o celular na igreja e estar por inteiro no diálogo com Deus?
O uso do celular na Missa
Muitos utilizam o celular na Missa. O assunto é complexo, pois
há os pontos positivos, que são: auxiliar no canto litúrgico; colaborar na
atenção do que está sendo falado pelo leitor; responder as orações eucarísticas
corretamente; fazer anotações a respeito da homilia etc. Todavia, também possui
pontos negativos, sendo eles: a distração com outros aplicativos e mídias
sociais; o incômodo causado à pessoa ao lado com fotos e sons; desatenção na
Missa entre outros.
O Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil da CNBB diz: “Com
a evolução das tecnologias de amplificação de imagem e som, as igrejas são
beneficiadas com os aparatos técnicos que contribuem para maior visibilidade,
compreensão e participação da Celebração Eucarística. Cuide-se, no entanto, que
eles não ocupem o centro da relevância e da atenção em relação à Palavra e ao rito
sacramental, e não criem ambiente de dispersão e de distração. Antes, colaborem
para que os fiéis participem de forma ativa e reflexiva das celebrações
eucarísticas”.
É difícil quem nunca ouviu o celular tocar na Missa ou
encontraram pessoas usando-o dentro da igreja. Ora, o celular deve ajudar na
participação do fiel e não atrapalhá-lo. Uma catequese, com a finalidade de
orientar o fiel a usar o celular de modo adequado e levá-lo a contemplar o
mistério pode ser o início da formação para uma nova evangelização.
O celular para oração pessoal
Num ambiente em que se está fora da Missa, o celular pode
contribuir na oração pessoal com seus vários aplicativos. Porém, não estamos
privados de receber notificações que vão nos desconcentrar no momento de
intimidade com Deus. Assim, o celular no modo avião pode ser útil. Se for o
caso, é mais recomendável usar o livro impresso para não dispersar a
comunicação com Deus.
O Papa Francisco, na Mensagem para o 50º Dia Mundial das
Comunicações Sociais, disse: “Não é a tecnologia que determina se a comunicação
é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso
dos meios ao seu dispor”.
Discernir para usar
Ressalta-se que a Igreja é lugar de comunhão com Deus e com os
irmãos. Nada substitui a presença física da pessoa, sendo que os meios de
comunicação devem nos aproximar e não nos distanciar. “O ambiente de
comunicação pode ajudar-nos a crescer ou, pelo contrário, desorientar-nos. O
desejo de conexão digital pode acabar por nos isolar do nosso próximo, de quem
está mais perto de nós”. (Mensagem do Santo Padre Francisco para 48º Dia
Mundial das Comunicações Sociais, 2014).
Portanto, sobre ser viável ou não o uso do celular na Igreja, é
o homem que deve ter o discernimento necessário para avaliar os momentos
adequados em que ele pode ser usado ou não. Seja como for, o cristão deve
dispor das tecnologias para dar a conhecer o amor de Deus, uma vez
experimentado por ele.
O Papa Bento XVI, no 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais,
disse: “Não deveria haver falta de coerência ou unidade entre a expressão da
nossa fé e o nosso testemunho do Evangelho na realidade onde somos chamados a
viver, seja ela física ou digital. Sempre e de qualquer modo que nos
encontremos com os outros, somos chamados a dar a conhecer o amor de Deus até
os confins da terra.”
Por Ricardo Cordeiro
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