O
que acontece em nosso coração quando somos tomados por uma ‘desolação
espiritual?’ Foi a pergunta feita pelo Papa Francisco na missa desta manhã, 27,
na Casa Santa Marta, centralizada no personagem de Jó. O Papa acentuou a
importância do silêncio e da oração para vencer os momentos mais sombrios.
Neste dia de São Vicente de Paulo, Francisco ofereceu a missa às Irmãs
Vicentinas e as Filhas da Caridade, que trabalham na Casa Santa Marta.
“Jó estava com problemas: havia perdido tudo”. A partir desta
leitura, que apresenta Jó despojado de todos os seus bens, inclusive seus
filhos, o Papa desenvolveu a homilia. “Jó se sente perdido, mas não maldiz o
Senhor”.
Francisco explicou que todos, cedo ou tarde, vivem uma grande
desolação espiritual. Jó vive uma grande desolação espiritual e “desafoga” com
Deus. É o desabafo de um filho diante de seu pai, disse. O mesmo, faz o profeta
Jeremias, que desabafa com o Senhor, mas sem blasfemar.
“A desolação espiritual é uma coisa que acontece com todos nós:
pode ser mais forte ou mais fraca, mas é uma condição da alma obscura, sem
esperança, desconfiada, sem vontade de viver, que não vê a luz no fim do túnel,
que tem agitação no coração e nas ideias. A desolação espiritual nos faz sentir
como se nossa alma fosse ‘achatada’: quando não consegue, não quer viver: ‘A
morte é melhor!’ desabafa Jó. ‘Melhor morrer do que viver assim’. E nós devemos
entender quando nosso espírito está neste estado de tristeza geral, quando
ficamos quase sem respiro. Acontece com todos nós, e temos que compreender o
que se passa em nosso coração”.
O Papa acrescentou que nessa ocasião devemos nos fazer uma
pergunta: “O que se deve fazer quando vivemos estes momentos escuros, por uma
tragédia familiar, por uma doença, por alguma coisa que me leva ‘prá baixo’? E
explicou que alguns pensam em engolir um comprimido para dormir e tomar
distância dos fatos, ou beber ‘dois, três, quatro golinhos’, mas o Papa disse
que isto não ajuda e que a liturgia de hoje mostra como lidar com a desolação
espiritual.
Resposta
no Salmo
A resposta está no Salmo 87, disse Francisco. “Chegue a ti a
minha prece, Senhor”. É preciso rezar com força, como disse Jó: gritar dia e
noite até que Deus escute.
“É uma oração de bater na porta, mas com força! ‘Senhor, eu
estou cheio de desventuras. A minha vida está à beira do inferno. Estou entre
aqueles que descem à fossa, sou como um homem sem forças’. Quantas vezes nós
sentimos assim, sem forças. E esta é a oração. O Senhor mesmo nos ensina como
rezar nestes momentos difíceis. ‘Senhor, me lançaste na fossa mais profunda.
Pesa sobre mim a Tua cólera. Chegue a Ti a minha oração’. Esta é a oração:
assim devemos rezar nos piores momentos, nos momentos mais escuros, mais
desolados, mais esmagados, que nos esmagam mesmo. Isto é rezar com
autenticidade. E também desabafar como desabafou Jó com os filhos. Como um
filho”.
O Livro de Jó, em seguida, fala do silêncio dos amigos, disse o Papa.
Diante de uma pessoa que sofre, as palavras podem ferir. O que conta é estar
perto, fazer sentir a proximidade, mas não fazer discursos.
“Quando uma pessoa sofre, quando uma pessoa se encontra na
desolação espiritual você tem que falar o mínimo possível e você tem que ajudar
com o silêncio, a proximidade, as carícias, com a sua oração diante do Pai”.
Resumo
das três atitudes para vencer a desolação espiritual
De maneira didática, em resumo, Francisco disse que: em primeiro
lugar é preciso reconhecer os momentos de desolação espiritual e se perguntar
por quê? Em segundo lugar é preciso rezar ao Senhor, como na liturgia de hoje,
com o Salmo 87, ‘Chegue a Ti a minha oração, Senhor’. E em terceiro lugar
quando se está diante de uma pessoa que sofre, que está na desolação completa,
é preciso o silêncio, silêncio com amor, proximidade e ternura e não discursos.
“Rezemos ao Senhor para que nos conceda essas três graças: a
graça de reconhecer a desolação espiritual, a graça de rezar quando estivermos
submetidos a este estado, e também a graça de saber acolher as pessoas que
passam por momentos difíceis de tristeza e de desolação espiritual”.
Por Canção Nova, com Rádio Vaticano
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