Com
a autorização do Papa, foi publicado na noite de sábado (24/10) o Relatório
Final do XIV Sínodo ordinário sobre a Família. Composto de 94 parágrafos,
votados singularmente, o documento foi aprovado por maioria de 2/3, ou seja,
sempre com o mínimo de 177 votos. Os padres sinodais presentes eram 265.
Segundo Padre Lombardi, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé,
apenas dois parágrafos obtiveram a maioria com margem limitada e são os que se
referem a situações difíceis, como a abordagem pastoral às famílias feridas ou
em situação irregular do ponto de vista canônico e disciplinar: convivências,
casamentos civis, divorciados recasados e o caminho para se aproximar
pastoralmente destes fiéis.
Indissolubilidade
matrimonial
O Relatório define a doutrina da indissolubilidade do matrimônio
sacramental como uma verdade fundada em Cristo mas ressalva que verdade e
misericórdia convergem em Cristo e, portanto, convida ao acolhimento das
famílias feridas. Os padres sinodais reiteram que os divorciados recasados não
são excomungados e reafirmam que os pastores devem usar o discernimento para
analisar as situações familiares mais complexas. O ponto 84 explica que a
participação nas comunidades dos casais em segunda união pode se expressar em
diferentes serviços: “Deve-se discernir quais formas de exclusão atualmente
praticadas nos âmbitos litúrgico, pastoral, educativo e institucional podem ser
superadas”.
Discernimento
À situação específica dos casais em segunda união, o ponto 86 do
documento faz referência a um percurso de acompanhamento e de discernimento
espiritual com um sacerdote, pois a ninguém pode ser negada a misericórdia de
Deus. Neste sentido, “para favorecer e aumentar a participação destes fiéis na
vida da Igreja, devem ser asseguradas as condições de humildade, discrição,
amor à Igreja e a seu ensinamento, na busca sincera da vontade de Deus e no
desejo de dar uma resposta a ela”.
Em relação ao crescente fenômeno dos casais que convivem antes de
se casar ou depois de um matrimônio sacramental, é uma situação que deve ser
enfrentada de maneira construtiva e vista como uma oportunidade de conversão
para a plenitude do matrimônio e da família, à luz do Evangelho.
Pessoas
homossexuais e uniões homossexuais
Pessoas homossexuais não podem ser discriminadas, mas a Igreja é
contrária às uniões entre pessoas do mesmo sexo. O Sínodo julga também
inaceitável que as Igrejas locais sofram pressões neste campo e que organismos
internacionais condicionem ajudas financeiras aos países pobres à introdução do
“casamento” entre pessoas do mesmo sexo.
Alguns parágrafos abrangem questões dedicadas aos migrantes,
refugiados e perseguidos cujas famílias são desagregadas e podem ser vítimas do
tráfico de pessoas. Os bispos invocam o acolhimento ressaltando os seus
direitos e deveres nos países que os hospedam.
Valorizar
a mulher, tutelar crianças e idosos
Os padres sinodais condenaram a discriminação contra mulheres em
todo o mundo, incluindo a penalização da maternidade. Em relação à violência,
ressaltam que “a exploração das mulheres e a violência exercida sobre o seu
corpo estão muitas vezes unidas ao aborto e à esterilização forçada”. Pede-se
também uma maior valorização da responsabilidade feminina na Igreja, com
intervenção nos processos de decisão, participação no governo de algumas
instituições e envolvimento na formação do clero.
A respeito da reciprocidade e na responsabilidade comum dos
cônjuges na vida familiar, afirma-se que “o crescente compromisso profissional
das mulheres fora de casa não encontrou uma adequada compensação num maior
empenho dos homens no ambiente doméstico”.
Sobre as crianças, o documento entregue ao Papa ressalta a beleza
da adoção e do acolhimento temporário, que “reconstroem relações familiares rompidas”
e menciona também os viúvos, os portadores de deficiência, os idosos e os avós,
que permitem a transmissão da fé nas famílias e devem ser protegidos da cultura
do descarte. Também as pessoas não casadas são lembradas por seu engajamento na
Igreja e na sociedade.
Fanatismo,
individualismo, pobreza, precariedade no trabalho
Como sombras dos tempos atuais, o Sínodo cita o fanatismo
político-religioso hostil ao cristianismo, o crescente individualismo, a
ideologia ‘gender’, os conflitos, perseguições, a pobreza, a precariedade no
trabalho, a corrupção, os problemas econômicos que excluem famílias da educação
e da cultura, a globalização da indiferença, a pornografia e a queda da
natalidade.
Preparação
ao matrimônio
O documento final reúne as propostas para reforçar a preparação ao
matrimônio, principalmente dos jovens que hoje têm receio de se vincular. É
recomendada uma formação adequada à afetividade, seguindo as virtudes da
castidade e do dom de si. Outra relação mencionada no texto é entre a vocação à
família e a vocação à vida consagrada. São também fundamentais a educação à
sexualidade e a corporeidade e a promoção da paternidade responsável.
Família,
porto seguro
Enfim, o a Relatório sublinha a beleza da família, Igreja
doméstica baseada no casamento entre homem e mulher, porto seguro dos
sentimentos mais profundos, único ponto de conexão numa época fragmentada,
parte integrante da ecologia humana. Deve ser protegida, apoiada e encorajada.
Pedido
ao Papa um documento sobre a família
O documento se encerra com o pedido dos Padres Sinodais ao Papa de
um documento sobre a família, indicando a perspectiva que ele deseja dar neste
caminho.
Fonte: noticiascatolicas.com.br
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