No relacionamento, é preciso ficar atento ao ressentimento de
cada dia
A dificuldade de relacionamento e a possibilidade da mágoa não
estão ligadas ao fato de sermos mais ou menos santos. Santidade é fruto de
superação. Aliás, muitos santos só chegaram ao estágio de santidade exatamente
porque conseguiram superar seus problemas de convivência. Ao lermos a vida dos
grandes santos, vemos como souberam amar, perdoar, relegar, passar por cima,
voltar… Foram mestres em relacionamento não porque não tiveram problemas, mas
porque aprenderam a superá-los e a resolvê-los de modo correto.
Problemas
existem, dificuldades de relacionamento são relativamente normais. Não podemos,
sob nenhuma hipótese, permitir que essas dificuldades se transformem em
ressentimentos.
Existem situações que fogem ao nosso controle e acabam por gerar
desentendimentos. Mas isso jamais pode ser obstáculo para que vivamos como
irmãos e nos amemos cada vez mais. O segredo é não deixar as mágoas se
transformarem em ressentimento. A verdade precisa aparecer sempre.
É
preciso aprender a expressar nossos sentimentos positivos e também os
negativos. Não adianta querer se martirizar guardando tudo no coração. Mas é
preciso aprender a fabulosa arte de se expressar, especialmente quando somos
provocados por sentimentos de mágoas. Se já é difícil expressar os sentimentos
bons, quanto mais expressar corretamente os sentimentos estragados. É preciso
saber como falar e, acima de tudo, falar com o objetivo de fazer crescer, de
desejar a cura do outro e não a sua destruição.
Ninguém está imune
ao ressentimento
Ninguém consegue superá-lo só com alguns bons conselhos. O ser
humano vive e se abastece pelo diálogo. Esse é o modo natural de comunicação.
Mas parece que nos esquecemos de algo tão óbvio e evidente, e, diante dos
problemas de relacionamentos, fechamo-nos num silêncio sepulcral. Sem a coragem
de dialogar não existe a menor possibilidade de evitar que os problemas mais
comuns do dia a dia acabem por se transformar em ressentimento.
Assim como a oração precisa ser sincera, o diálogo também deve
obedecer a essa lei fundamental. Sinceridade significa estar desarmado. Não há
como um diálogo ser canal de cura se eu for ao encontro do outro com o coração
armado e pronto para criticá-lo, brigar com ele, ofendê-lo e culpá-lo. Isso não
é diálogo, é provocação.
No diálogo fraterno e honesto, não pode existir a intenção de
ofender o outro ou de devolver a ofensa recebida. Se existe essa intenção, é
melhor deixar para outra hora. Tudo o que falamos na hora da exaltação e da
raiva só ajuda a aumentar o problema e a aprofundar a ferida.
O diálogo só é curador quando ocorre num clima de amizade
fraterna, com o objetivo de solucionar o problema; é curador se ajuda quem fala
e quem escuta. Ou ajuda a curar os dois envolvidos no processo ou não é cura do
ressentimento. Por isso, o diálogo curador exige a coragem de ouvir. É preciso
colocar-se no lugar do outro, tentando enxergar o problema a partir do ponto de
vista dele, tentando enxergar o problema a partir do ponto de vista dele, saber
como ele está vendo e sentindo a situação.
Padre
Léo – livro A cura do ressentimento
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